Como a evolução tecnológica (IA) pode afetar o processo de aprendizagem

Nos últimos anos, observamos uma aceleração nos processos de inovação em inteligência artificial

Autor: Lorenzo TessariFonte: 0 autor

Nos últimos anos, observamos uma aceleração nos processos de inovação em inteligência artificial. Um exemplo é o ChatGPT, protótipo de um chatbot com inteligência artificial generativa desenvolvido pela OpenAI que interage com os usuários sobre diferentes assuntos, além de ser capaz de executar inúmeros comandos, como resolver operações matemáticas e produzir textos. Com isso, podemos observar que a evolução da tecnologia impacta diretamente o setor educacional, mas como isso pode afetar o processo de aprendizagem?

Recentemente vimos as tentativas de inserir diferentes tecnologias na esfera educacional, muitas vezes sem sucesso por conta da falta de destreza em operar e entender essas tecnologias, ou por inseri-la forçadamente quando não é necessária. Por outro lado, existe uma gama de exemplos que foram essenciais no momento da pandemia e se provaram eficientes, como computadores, tablets e smartphones para acessar recursos educacionais on-line como vídeos, simulações e jogos educacionais.

O aprendizado nem sempre é visto como algo engajador, dessa forma, tecnologias mais recentes podem tornar esse processo mais interativo e atrativo para o aluno. Além disso, a inteligência artificial (IA) e o conhecimento da máquina podem ser usados para personalizar o aprendizado, atendendo às necessidades individuais dos alunos e fornecendo feedbacks instantâneos sobre seu progresso.

O uso correto de tecnologias como a IA pode alavancar resultados de estudantes como, por exemplo, por meio de trilhas adaptativas de aprendizagem que se adequam em formato e dificuldade para o aluno, além de análise de sentimento para avaliar a compreensão e o engajamento deles com o conteúdo. Fora que é possível proporcionar experiências mais palpáveis como conversar com livros, extraindo o máximo de conteúdo de uma maneira mais ativa.

Em contrapartida, o uso indevido dessas possibilidades pode gerar um resultado indesejado como o comodismo de ter as informações de maneira imediata, o que permite o aluno ficar em sua zona de conforto sem estimular seu esforço mental, tão fundamental no processo cognitivo de aprendizagem.

Além do próprio mal uso, aspectos inerentes a IA podem contribuir negativamente na formação intelectual e social do indivíduo. Se uma inteligência é criada sem uma estrutura de qualidade, pode desencadear modelos incompletos de dados que refletem e perpetuam preconceitos, além de desigualdades existentes na sociedade. Outro ponto de desvantagem importante de pontuar é a falta de acesso dessas ferramentas, já que possibilitam a criação de barreiras a determinado grupo de pessoas e a discriminação indevida no uso da tecnologia como, por exemplo, o etarismo, preconceito contra pessoas com base em estereótipos associados à idade.

Apesar dos contrapontos, entendo que a evolução tecnológica não pode ser encarada como um obstáculo no processo de ensino-aprendizagem, e sim como um propulsor. Diante disso, com o uso apropriado, igual a várias outras aplicações e ferramentas que foram criadas na história da humanidade, cabe a nós adaptarmos a forma como testamos e cobramos nas instituições de ensino, assim como já fizemos anteriormente, além de evitarmos o mau uso da inteligência.

Nos próximos anos, a tendência é aumentar cada vez mais o uso de IA em diversas áreas, a educação não é diferente. Novas metodologias avaliativas precisarão ser testadas e criadas, instituições de ensino superior precisarão adaptar seus currículos e suas ementas a fim de trazer ainda mais o ensino prático e menos teórico. As ferramentas estão disponíveis, resta nós sabermos usá-las e, como tudo na história, evoluirmos com elas.

A inserção do uso correto da IA em grades formativas de ensino básico e superior, e desenvolvimento de raciocínio lógico e crítico precisam ser fortificados, pois saber o que perguntar será o mais importante e o pensamento crítico é fundamental, já que as informações estão ainda mais disponíveis do que antes. O que move o mundo não são as respostas, e sim as perguntas. Dessa forma, deixo como reflexão a frase do empresário norte-americano Paul Tudor Jones: "Nenhum homem é melhor do que uma máquina e nenhuma máquina é melhor do que um homem com uma máquina".


Lorenzo Tessari é Chief Operating Officer (COO) da Gama Ensino, startup de tecnologia desenvolvedora de um algoritmo proprietário que identifica os gaps de aprendizado dos alunos para o direcionamento dos seus estudos.