Renegociação de dívidas poder ser um caminho para frear o crescente número de pedidos de recuperação judicial no País
É preocupante o aumento dos pedidos de recuperação judicial no País, número que chegou a 238 registros em agosto deste ano, quantidade 76,3% maior do que no mesmo mês do ano passado. Os dados são da Serasa Experian, que mostram que último mês de julho foram 229 requerimentos, alta impulsionada principalmente por pequenas e médias empresas.
O atual cenário econômico, com as altas dos juros e da inflação, vem impactando a capacidade dos pequenos e médios empresários de arcarem com suas dívidas. Isso revela, em grande parte dos casos, a falta de entendimento dos empresários sobre os sinais de alerta relacionados à dívida e à importância de sua renegociação. O que começou como pequenos desequilíbrios financeiros acabou se transformando em um problema maior e incontrolável.
Por isso, renegociar dívidas é uma tarefa séria, que exige critérios e metodologias específicas, tanto que existem cursos ministrados por especialistas que detalham o processo minuciosamente. A empresa em crise deve entender as características de cada tipo de dívida e de cada credor, além de sua real capacidade de gerar lucro operacional, que é a única maneira eficaz de cumprir com os acordos.
Sem um plano sólido para gerar lucro operacional, que pode incluir fontes extras de recursos, é inútil convocar os credores. Ter uma estratégia bem definida, apoiada por um mapeamento de riscos, é essencial. Nesse sentido, a reestruturação empresarial pode ser um caminho para ajudar na renegociação da dívida, evitando que a empresa entre com um pedido de recuperação judicial.
A experiência indica que renegociar pode ser mais econômico do que enfrentar uma recuperação judicial. Um exemplo recente é o Grupo Casas Bahia, que entrou em recuperação extrajudicial e lidou com uma dívida de R$ 4,1 bilhões. O CEO, Renato Franklin, anunciou que a previsão de melhoria no fluxo de caixa da empresa é de R$ 4,3 bilhões nos próximos quatro anos, com um ganho de mais de R$ 1,5 bilhão apenas em 2024. Isso demonstra a importância de ter um plano.
Entre os profissionais que lidam com crises empresariais severas há um mantra que compara essas situações a doenças graves: “No início, o diagnóstico é mais difícil, porém a cura é mais fácil. No fim, o diagnóstico é simples, mas a cura mais difícil”.
Assim como em uma doença grave, o tempo disponível para implementar mudanças e reestruturar a empresa é um fator decisivo para a cura. Por isso, uma boa gestão empresarial é um diferencial para se sobressair num mercado global competitivo.
*Emílio Moreira, sócio e diretor da Nordex Consultoria Empresarial, é engenheiro de Produção pela Escola Politécnica – USP, com MBA em gestão empresarial pela USP e extensa vivência na gestão de operações, gestão financeira, e reestruturação de empresas de diferentes portes.